A hospitalidade moçambicana

Posted: February 27, 2008 in Uncategorized

Chegamos na casa do Tomas quase as tres da manhã. O apartamento era bem simples, eu diria que era padrão de classe média baixa no Brasil. Mas o que importa é que a esposa tinha deixado jantar e a mesa pronta para a gente, toalhas de banho separada e lençóis limpos. Havia um quarto e 2 sofás a disposição. Não precisava de mais nada. Dormimos os 3 machos na sala (nos arrumamos com os sofás e as almofadas) e a Teresa ficou com o quarto.    Quando acordamos a esposa dele já tinha preparado batatas coradas, lingüiça e ovos mexidos. Tinha ainda pão, cream cheese e suco de maçã. Era o nosso café da manhã (pequeno almoço para os portugueses, angolanos, moçambicanos, etc). Tipicamente uma família disposta a fazer o que fosse preciso para nos receber bem. O Tomás nos levou para conhecer a cidade. A praia era meio suja e não tinha quase ninguém. A cidade de um modo geral é bem antiga (com prédios da década de 70 e péssimo estado de conservação). Mas era bastante organizada e limpa no centro da cidade (tinha lixo para ser recolhido em toda a cidade, mas não era nada tão degradante).   Fomos almoçar no Mercado do Peixe. Fomos recebidos como ídolos do rock. Vieram uns 10 em nossa direção, sedentos pelo nosso dinheiro. O mercado do peixe é uma grande feira de pescados. Você compra o peixe cru e os camarões e leva para os restaurantes que ficam atrás do mercado. No restaurante eles preparam e incluem os acompanhamentos (uma papa de farinha de milho que não lembro o nome, salada e batata frita)… uma delícia…Excelente almoço. Grande experiência.Fomos ver o Por do Sol e o inicio da noite em um quioque na beira da praia. Esse é o programa de todo cidadão de Maputo. A lua estava linda e ainda encontramos 2 amigos do Gustavo de Portugal. Ficamos bebendo até as 9 horas. A noite ainda encontamos pique para ir para o Coconut, uma baladinha meio trash  (com concurso de sambista, mascaradas, carinhas vestindo gravata com camiseta e outras roupas muito trash). Tocava Samba, Rap, música de balada e outras músicas de ritmos africanos. Foi impossível não se divertir.  O povo moçambicano é muito simpático. Existem aqueles que o são, pois esperam uma gorjeta, mas há também uma bondade natural. Estão sempre prontos a retribuir um sorriso ou nos dar uma direção. Ainda existe uma relação muito forte com a revolução de Independência (1974). A lembrança de Samoro Machel (herói da revolução) e falecido em um acidente aéreo ainda é muito presente. Diferente do Brasil, a independência aqui foi conquistada pelos negros pobres contra a elite branca (portugueses). Foi aí que a cidade mudou de nome de Lourenço Marques para Maputo (os portugueses antigos que moram na África do Sul ainda chamam de Lourenço Marques). Ainda como colônia, os negros podiam frequentar  as escolas e também as universidades. Embora em pequeno número, foi o acesso a educação que permitiu aos moçambicanos perceberem o natural direito a liberdade. A independência foi conseqüência desse processo. Os portugueses acreditam que a cidade está abandonada e que era muito mais bela e limpa na época de Portugal. Muitos deles fugiram para Portugal e África do Sul após perderem tudo na guerra. As construções ainda são daquela época (para eles, uma prova cabal de que o país estava melhor como colônia portuguesa). A fome e a mendicância ainda estão presentes em todo lugar. Camelôs e segurança de prédios e condomínios (com uniformes semelhantes ao  dos militares, apesar do calor) me pareceram as principais atividades para os negros. Aliás, tem que pechinchar. O preço sempre começa lá em cima.   Foi um dia muito show. Fomos dormir convencidos que tinha sido uma ótima escolha vir a Maputo. Acordamos no domingo e voltamos felizes para Jo’burg.

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